Entenda como agia um dos maiores ladrões de caixas eletrônicos do país, preso no RJ após crimes até na Colômbia
24/04/2025
(Foto: Reprodução) Em áudios, Denis Galdino reclama que comparsas colombianos não tinham paciência para monitorar agências bancárias e fugiam com a aproximação de qualquer viatura. No Brasil, ele participou de furtos em pelo menos 12 Estados e no DF Entenda como agia um dos maiores ladrões de banco do país, preso no RJ
A polícia descobriu que, em 2023, depois de ter sido solto por um furto no Piauí, o homem apontado como um dos maiores ladrões de caixas eletrônicos do Brasil passou um tempo escondido em Medelin, na Colômbia.
Denis Galdino, de 42 anos, passou um ano foragido até ter sido preso em março deste ano em Cachoeiras de Macacu, interior do Estado do Rio, numa operação conjunta das polícias civis do Rio e de Santa Catarina.
Contra ele havia um mandado de prisão por participação num furto de cerca de R$ 500 mil de uma agência bancária em Joinville, norte de Santa Catarina, em setembro de 2023.
Segundo as investigações, na Colômbia, Galdino também participou de furtos de caixas eletrônicos, mas não ficou satisfeito com os novos parceiros do crime.
Ele reclamava que os colombianos não tinham paciência para monitorar a rotina das agências bancárias.
"Colou a VT [viatura], ou colou uma motoca, acabou. Os caras nem ficam pra ver. Os caras já vai ligando o carro e saindo. Não é igual nós, que fica ali, cozinha, tal, vê, espera, entendeu? Dá o drible. Ah, ficou tenso, espera acalmar pro outro dia. Nós sabe o que tá acontecendo, entendeu? Os cara, não. Os cara é outra pegada, outra cultura. Tudo diferente, entendeu?", disse Galdino, em um áudio numa troca de mensagens encontrada pela polícia.
A GloboNews teve acesso a imagens exclusivas do crime em Joinville. Era tarde de um domingo, quando a quadrilha chegou para o roubo numa agência bancária. Com uma escada, um dos bandidos mexe no teto da agência e corta um cabo do sistema de segurança do banco.
Uma outra câmera flagra o exato momento em que os criminosos arrancam a placa de metal que fica em cima do caixa eletrônico, e dois ladrões passam por cima do equipamento. Lá dentro, com ajuda de uma chave, eles conseguem abrir dois caixas eletrônicos, e retiram as gavetas lotadas de dinheiro. A dupla ainda tenta arrombar outras duas máquinas, sem sucesso. Toda a ação durou menos de cinco minutos.
O dinheiro - cerca de R$ 500 mil - é guardado em bolsas pretas e depois levado até o carro estacionado na porta da agência. A PM é acionada, e quando chega não encontra nenhum sinal da quadrilha.
A investigação da Polícia Civil catarinense descobriu que quem estava por trás desse furto era um velho conhecido da Justiça: Denis Galdino, considerado um dos maiores ladrões de caixas eletrônicos do país.
Ele aparece nas imagens de segurança do banco planejando a ação criminosa em vários dias anteriores ao dia do crime.
"De acordo com nossas investigações, o crime não aconteceria se não fosse a participação do Denis. Ele tinha participação fundamental, pois ele tinha o know how, expertise de como funcionavam os caixas eletrônicos, qual o melhor horário, melhor local, a forma mais célere de conseguir subtrair esses valores. Na grande maioria dos crimes, ele tinha participação direta. Rodava o país todo, inclusive ensinava outras quadrilhas a praticarem esses crimes", explica o delegado Murillo Batalha, da Polícia Civil de Santa Catarina, responsável pela investigação.
A polícia afirma que, além da Colômbia, Denis Galdino - que é catarinense - percorreu as ruas de pelo menos 12 Estados e do Distrito Federal para cometer crimes nas últimas duas décadas:
Rio Grande do Sul
Santa Catarina
Paraná
São Paulo
Rio de Janeiro
Goiás
Distrito Federal
Bahia
Pernambuco
Piauí
Paraíba
Rio Grande do Norte
Pará
"Ah não, uma coisa é certa: no sofá não vem dinheiro. Se o cara não tiver na rua atrás, mano...", diz Galdino em outro áudio encontrado pela polícia.
Em outra conversa apreendida, Galdino fala com um comparsa sobre possíveis alvos na Paraíba.
"Oi, chefe, mas tem alguma coisa produtiva aí, chefe? Tu não dá ponto sem nó, né chefe? Tu não tá indo aí pra ficar andarilhando aí na beira da praia. Que que tu tá inventando, me fala? Tô precisando de dinheiro, chefe. Me ajuda".
Identidades falsas
De acordo com a polícia, Denis Galdino se escondia por trás de identidades falsas. Já se passou por Daniel Tamanini, João Dennis Campos Neto e Dennis Jorge Migliorini.
Usando esse último nome, Denis Galdino chegou a ser preso, 17 anos atrás. Mas o verdadeiro dono dessa identidade é um jornalista paranaense, que foi localizado pelos investigadores.
"Foi muito constrangimento, né? E tudo isso aí me atrapalhou muito em questão de arrumar emprego, porque em 2008 eu era um jornalista recém-formado. Estampando aí no Google, nos mecanismos de busca, meu nome apontava aí em matérias como se fosse arrombador de caixa, e eu nunca tive problema em relação a isso. Mas tinha inquérito contra mim em Minas Gerais, na Bahia, no Ceará e no Espírito Santo. Então rodou muito meu nome aí, sem eu dever", contou o jornalista em entrevista à GloboNews.
Denis Galdino aparece em imagens de câmeras de segurança durante roubos
Reprodução
Em maio de 2023, a ousadia da quadrilha foi flagrada pela câmera de um banco em Altos, no Piauí. Os bandidos furam a parede e entram na agência para mais um arrombamento de caixas eletrônicos.
Um deles vira a câmera de segurança para tentar impedir o registro do crime. Dessa vez, a polícia chegou a tempo, e Denis Galdino foi preso.
Depois de conseguir um habeas corpus na Justiça e ser solto, ainda em 2023, ele foi para Medelin, na Colômbia.
Da Colômbia, Galdino veio para o Rio de Janeiro. Segundo as investigações, por um ano, ficou escondido no Complexo da Penha, Zona Norte da cidade.
Em março, foi surpreendido pelos policiais em Cachoeiras de Macacu, onde participava de um evento religioso.
Na hora da prisão, reclamou de ter sido algemado.
"Dá essa moral? Não vou fazer nada demais. Não sou bandido, mano", disse Galdino.
"É um indivíduo extremamente perigoso. Há mais de 20 anos se dedica à prática de crimes. Agora, o objetivo da Polícia Civil de Santa Catarina é identificar todos os crimes que ele praticou no Brasil, pois ele cometeu inúmeros delitos com documentos falsificados. É um indivíduo sem escrúpulos, que vive da prática de crimes", ressaltou o delegado Murillo Batalha, da Polícia Civil de Santa Catarina.
A defesa de Denis Galdino foi procurada, mas não se manifestou.