Médico responsável por hidrolipo em que mulher morreu em SP já foi processado 21 vezes por erro
27/11/2024
Ações são por danos morais. Em uma delas, Josias Caetano dos Santos foi condenado a pagar R$ 50 mil para uma paciente que teve a barriga necrosada e perdeu o umbigo após contrair uma infecção hospitalar. Advogado de médico diz que todos os processos foram arquivados. Prefeitura de SP interdita clínica onde mulher fez hidrolipo antes de morrer
O médico Josias Caetano dos Santos, que realizou a hidrolipo na mulher de 31 anos, morta nesta terça-feira (26) na Zona Leste de São Paulo após complicações durante o procedimento, foi processado 21 vezes por danos morais em erros médicos, segundo apurou a TV Globo.
Em uma das ações, ele foi condenado pela Justiça a pagar R$ 50 mil de indenização, em 2021, à paciente que realizou abdominoplastia, procedimento que remove excesso de pele e gordura abdominal, além de lipoescultura.
Essa cirurgia teria sido realizada em uma clínica na Mooca, Zona Leste, que pertencia a um amigo de Josias.
Após a cirurgia, a paciente apresentou necrose da pele, perdendo o umbigo devido à infecção. O procedimento ocorreu em dezembro de 2017. Em janeiro de 2018, ela sentia fortes dores e notou secreção, sangue e odor forte na barriga.
Ao tentar contato com Josias, ele recomendou aguardar. Quando finalmente retornou à clínica, no final de janeiro, o médico confirmou a necrose, e não a internou.
A paciente procurou outro hospital, Santa Rita, em fevereiro de 2018, onde foi diagnosticada com infecção grave, internada na UTI e, após tratamento, ficou com uma cicatriz abdominal e perda do umbigo.
Ela entrou na Justiça em novembro de 2018. Na ação foram anexadas diversas mensagens em que a vítima reclamava de dor, e o médico apenas dizia que ela precisava esperar.
Segundo o advogado de defesa do médico, Lairon Joe, todos os processos foram arquivados. "O doutor Josias não tem uma condenação penal em relação a erro médico. E todos os processos, os inquéritos policiais que foram abertos, todos foram arquivados. Então, nós iremos prestar os esclarecimentos devidos", afirmou.
Sobre a ação de 2021, Joe informou que, além de Josias, o Hospital Santa Rita - que a paciente procurou após realizar o procedimento, também foi condenado a pagar a indenização.
No laudo pericial, não foi possível análise precisa sobre o estado da paciente entre a primeira cirurgia e a sua internação no Santa Rita, ou seja, não foi possível comprovar onde ela teve a infecção.
Os outros processos também são por danos morais em supostos erros médicos.
Morte de paciente
Paloma Lopes Alves teve parada cardiorrespiratória durante o procedimento. Josias disse que ela começou a sentir falta de ar minutos após ser levada para a sala de recuperação pós-operatória e ficou inconsciente.
Paloma foi socorrida por uma unidade do Serviço de Atendimento Móvel (Samu). No entanto, ela chegou sem vida ao Hospital Municipal do Tatuapé. O caso foi registrado como morte suspeita.
O médico afirmou que, quando chegou na sala de recuperação pós-operatória, a paciente "estava com angústia respiratória, com muita falta de ar" e piorou muito rapidamente.
A paciente piorou muito a angústia respiratória e ficou inconsciente, mas, assim, foi coisa de segundos. A gente começou a fazer a massagem cardíaca. A gente começou a ventilar com aquela máscara de O2. Quando você tem um sofrimento por falta de oxigênio, é esperado que, com essas manobras, isso já recupere rapidamente. Não foi o que aconteceu.
R$ 10 mil pela hidrolipo
Paloma tinha conhecido o médico pessoalmente apenas no dia da cirurgia e pagou R$ 10 mil pelo procedimento, segundo o marido, Everton Silveira.
Ainda conforme Everton, ela contratou o procedimento pelas redes sociais, e o pagamento da consulta foi realizado por transferências bancárias a uma empresa em nome do médico no valor de R$ 10 mil.
A justiça precisa ser feita. Eu levei minha esposa para fazer a realização do sonho e agora temos que enterrá-la. Estou sem acreditar.
Segundo o marido, Paloma deu entrada no período da manhã da terça na clínica de estética Maná Day, na Avenida Conselheiro Carrão, Zona Leste de São Paulo. O procedimento seria feito na região das costas e do abdome, e a paciente tinha previsão de alta no fim da tarde. Porém, ela passou mal e teve uma parada cardíaca.
"A gente foi fazer o procedimento, e eu estava lá. Fizeram uma negligência enorme. Demoraram muito para chamar o Samu. A hora que eu vi que o Samu estava lá, eu saí correndo. Eles não me informaram o que estava acontecendo. Uma situação muito triste, delicada. Nossa, fora do comum. No hospital, tentaram reanimar, mas ela veio a óbito", afirmou ele.
O que é hidrolipo
Hidrolipo: o que é e quais os riscos deste procedimento estético
A hidrolipo, também chamada de lipoaspiração tumescente, é o nome dado a uma lipoaspiração realizada com anestesia raquidiana, que torna insensível à dor apenas uma parte do corpo. O paciente, se não for sedado, mantém a consciência e fica acordado durante todo o procedimento.
A cirurgia leva o prefixo "hidro" no nome porque o médico injeta uma solução de anestésico, soro fisiológico e adrenalina com o intuito de diminuir os vasos capilares e reduzir a perda de sangue.
"Conceituou-se que a hidrolipo seria essa lipoaspiração, injetando anestésico, soro fisiológico e adrenalina feita com anestesia, no consultório médico e com o paciente acordado", explicou em 2021 o médico Wendell Uguetto, ao g1 (veja entrevista no vídeo acima).
A hidrolipo é uma alternativa à lipoaspiração convencional para as pessoas que desejam remover áreas de gordura de pontos específicos do corpo.
"Como eu tenho uma restrição de anestésico, eu consigo fazer [o procedimento] em poucas áreas. É uma cirurgia que pode ser um pouco desconfortável para o paciente. Já a lipoaspiração convencional, que é feita em ambiente hospitalar, o paciente está dormindo. É totalmente confortável para o paciente e a gente, como cirurgião, consegue retirar muito mais volume", diz Uguetto.
A técnica ficou conhecida por ser mais rápida, cômoda e barata do que uma lipoaspiração convencional, mas deve ser utilizada com parcimônia porque pode ser tornar tóxica se administrada em excesso.
Segundo o cirurgião, em um hospital esse risco é reduzido porque há acompanhamento de um anestesista todo o tempo.
Há ainda aqueles comuns em qualquer lipoaspiração, como perfuração, trombose, embolia pulmonar e outros.
Para reduzir os riscos do procedimento, Uguetto recomenda que o paciente procure um profissional capacitado, com registro e em um centro de referência, que faça a cirurgia em um ambiente hospitalar e, tão importante quanto, que exija exames pré-operatórios.
Paloma Lopes Alves morreu após procedimento estético em SP
Arquivo Pessoal